Acordei um pouco antes do alarme despertar e fiquei na cama, aproveitando mais uns minutos a minha preguiça, até que o alarme disparou me lembrando que era hora de levantar.Tomei banho, um cafezinho com biscoitos e notei que meus cigarros tinham acabado.Vi que estava um pouco atrasado. A neve que caiu na noite passada foi suficiente para cobrir passeios e carros. Saio carregando um rádio com vários fios pendurados, luvas por colocar, chaves e caneta na outra mão.Tive problemas para abrir a porta que me leva até a rua.Quando pisei no passeio pensei que deveria ter mais cuidado.Tudo escorrega demais. O vento soprando com força balançando meu cabelo e levando todo meu perfume, batia em meu rosto como se estivesse vingando de alguma coisa.Sei que meu carro esta muito velho e eu preciso colocar água no radiador que nunca para de vazar.
Ainda estou de ótimo humor. Liguei aquele ferro velho e sai sem muita certeza. O transito realmente ruim já às 6.30 hs da manhã.
Todos parecem com pressa e muitos não deixam você entrar na frente.
Chego ao meu local de trabalho. Pego os pacotes que deverão ser entregues por mim em várias áreas da cidade. Vejo os endereços que hoje me parecem familiar. Mas já estou cansado de saber que terei problema para estacionar por ali.
Paro no primeiro endereço e para minha surpresa encontrei facilmente um lugar para estacionar e isso me deixou feliz, principalmente porque estacionado ali, eu poderia ir a três ou quatro lugares diferentes.
Comecei a andar e notei que as ruas estavam em péssimas condições devido a neve da noite anterior.
Tem muita gelo entre o meio fio e o passeio.
Dei um pequeno pulo para alcançar um lugar seguro,
Nunca sei onde o gelo está realmente duro. Pisei numa parte supostamente dura e sinto aquela água gelada molhando meus pés mesmo quando estou usando um sapato de couro que adoro e fico chateado sabendo que não foram comprados para esse proposito. Agora eles estão arruinados, continuo pisando naquele chão de pedra sabão escorregadio. Só quem anda naqueles passeios sabe como é, ainda mais se estiver usando sapatos molhados. Preciso ter mais cuidado hoje. Não seria engraçado ter meu braço ou qualquer outra parte do meu corpo quebrado por cair num chão escorregadio como aquele. Preciso de um chocolate quente com um biscoito frito que aqui chamam de Plain Donut.
Entro no prédio. No elevador cheio, alguém pode pensar que existem pessoas para fazer de tudo nessa vida, depois de me verem todo molhado.
Vou até o balcão de um escritório de uma grande companhia. Aproximei da recepcionista e adorei ver aquele rosto bonito mesmo ela tendo o telefone pendurado no ombro, mas por não te-la, imagino que o corpo dela não deva ser proporcional a sua sua beleza. O não ter às vezes nos faz depreciar.
Ela assinou um recibo e agradeceu sem muito boa vontade. Sai daquele prédio e fui a outro endereço dois quarteirões apenas, mas pareceu mais de cinco pela dificuldade em andar.
Depois do trabalho feito volto para o meu carro.
Assim que chego lá o rádio já me chama e alguém diz que devo ir em mais dois lugares de onde acabei de voltar.
Vejo que o parquímetro precisa de mais moedas apesar de apenas 25 cents eu penso que isso não é justo e eu desejaria ter uma ótima ideia para faze-lo trabalhar mais devagar.
Mas o tempo é mais rápido do que eu e preciso alimenta-lo com mais 25 cents.
Entro novamente no elevador quando um cara se achando engraçado me pergunta como estava o tempo lá fora. Pelo jeito que ele perguntou, conseguiu meu sorriso.
Tinha decidido jogar o jogo dele e subimos rindo.
Volto para meu carro e quando o ligo novamente, vejo que pelo barulho que fazia assustou um senhor parado na minha frente com um carro maravilhoso, parecendo até um modelo do ano 2000.
Me senti culpado por assusta-lo e tentei dizer a ele que não tivesse medo, o carro não explodiria. Realmente fingiu não me ouvir.
Estou dirigindo para o outro lado da cidade quando vejo uma mulher de cor, super gorda perdendo sua sombrinha para o vento, ela parecia praguejar demais.Também é preciso alguma coisa engraçada
acontecer.
Agora estou indo para a Park Street e depois de tudo, comecei a apreciar a bela vista que a neve ajudou a construir. Boston tem lugares lindos. Toda aquela neve me faz lembrar dos cartões de natal sempre com neve, mas ainda não consigo entender porque os cartões de natal de um pais tropical como o Brasil precisam ser iguais aos daqui sendo que lá nunca neva. Não acho que a neve seja simbolo tão cristão assim. Mas contra tradições não temos muito o que fazer.
Fui fechado por um motorista de caminhão. Não adianta xingar. Aquele caminhão parece invencível, mas logo me esqueço dele no próximo sinal vermelho. Esses detalhes não vão estragar o meu dia. Estou aqui vivendo meu sonho digo a mim mesmo para jamais esquecer disso. O sinal nunca está verde principalmente quando estou com pressa. Olho a temperatura do carro e agradeço a Deus por tudo parecer normal. Hoje vaza menos.
Estou em outro prédio, alguém me deseja um bom dia condicional e da mesma forma retribuo.
E fico dizendo a mim mesmo que terei um ótimo dia.
Saindo dali, fui mais uma vez enganado pelo gelo e agora estou ensopado até os joelhos. Quando vejo no para-brisa do meu carro, que fui trapaceado novamente e fui presenteado com uma multa de 25 dólares. O único jeito de me sentir melhor é pensar que são apenas 25 dólares.
Acendi um cigarro e sei que isso não é bom pra mim.
O limpador de pra brisa do meu carro não desliga, só fica ligado esfregando aquele vidro já seco. As vezes desejo ter uma Mercedes ou um BMW, mas esse pensamento não dura mais que 10 segundos em minha mente. Melhor assim.
Ando cada dia mais certo que preciso consertar esse carro velho.
Já são três horas. Me lembro de todas as pessoas que vi de mau humor hoje, menos aquele cara do elevador, um gozador.
Recebi meu cheque, que tristeza. Totalmente incompatível
Alguém me chama no rádio novamente com voz extremamente arrogante. Só Deus sabe o quanto adoraria desligar aquele rádio para sempre. Mas ainda não posso fazer isso.
Por outro lado aproveito uma grande poça com água gelada e passo com meu carro molhando um senhor para a minha própria satisfação. Que Deus me perdoe.
Eu não podia ouvir os palavrões com todo aquele barulho que o carro fazia.
Eu tinha um alvo, mas não sabia que demoraria mais vinte e um anos. Mas o caminho percorrido precisa ser um aprendizado, ser bem traçado e meio que seguido à risca. Não acho que os fins justificam os meios. Seria péssimo chegar " lá" sabendo que atalhos foram tomados e que na realidade, para ter sido feito certo, eu deveria voltar quase no começo e fazer tudo novamente. Não gosto de pular etapas. Penso que até os sonhos devem ser sonhados de uma forma honesta.
São cinco horas e isso me faz sentir tão livre. O cara mais livre do mundo.
O céu já está escuro, preparando mais uma noite gelada e um dia totalmente branco para amanhã.
Chego em casa e vejo uma mensagem na secretaria eletrônica onde ouço a minha mulher dizer que ainda se sente mal mal e não poderá viajar para os Estados Unidos hoje. Eu esperava uma mensagem tão diferente....
Alguma coisa como estou viajando hoje a noite para te encontrar e estou levando dois milhões de dólares, não precisará trabalhar amanhã com todo esse frio. Melhor passarmos uns dias no Caribe.
Deixando de sonhar acordado, tomo banho quentinho de banheira, fumo um cigarro " caro " e continuo a ler o Estorvo do Chico
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